8.6.10

vi o tempo entranhado no teu rosto. as rugas da destruição infectadas no teu corpo, no teu sangue. fiquei sem saber se haveria de te aconchegar, lavar o teu rosto putrefacto ou fugir. qual acção decorreu?
podia ter fugido, podia ter rasgado os cabelos e as mãos com os meus olhos corroídos, enlouquecido porta fora, elevado a minha voz rouca de tanto tossir os pulmões e exclamado que tinha chegado o fim.
podia ter lavado, purificado o teu desalento e morrido com a acidez. teria sido corroída, manchada, também eu infectada e ter criado um cenário tão devastador quanto a própria palavra proferida. teria escancarado a porta e teria sido enterrada no meu próprio solo, no solo onde o meu profano corpo caminha, enterrada com a minha podridão e tu ao meu lado, esbatido, morto.
podia ter aconchegado e ter mandado às minhas mãos para te transmitir o pouco do quente que resta num corpo, terias melhorado em ternos segundos e eu devastada nestes, caída aqui, terias chorado à janela por mim e perguntado quando voltava. eu, ali, nem uma reacção por.
qual acção decorreu neste curto espaço? nada.
não fiz nada, deixei-te ali e vi-te a apodrecer, a sério que vi o teu torso palpitar até ao último bater de coração, já que fui tão fácil de encarar, fui fácil a desmanchar. já que te carreguei demasiado, tentarei exclamar este predicado. acredita que uma coisa te digo, a todos vocês, percebam que este ingénuo ser não fez por mal. em ter-se apoderado de todo o seu poder perturbante e decidido. sim, um ser, não necessariamente eu, nem tu. mas talvez ele ou ela, talvez um alguém e outro fraco alguém. só importa saber que este incapaz em algumas acções, soube conjugar os seus poderes, que são muitos, sempre muitos, quando os concentras em alguém.

2 comentários:

Beatriz Pecknold disse...

PALMAS

Jay disse...

adoro a tua forma de escrever, parabéns :)