11.5.10

vejo-o a sair de casa, cortou o cabelo; há muito tempo que não sabia nada dele. creio que tem andado fora da cidade, creio que tem viajado de sala em sala. é óbvia a sua aparência; olhos azuis pingados, nariz desajeitado, lábios mais secos que o sal e soube hoje com meus olhos do seu cabelo cortado, cortou-o finalmente, manteve o castanho a puxar para o doirado e continuou a deixar o cabelo tapar a sua testa. tal acto, deve ter sido a representação da sua transição, de rapaz para homem.
hoje traz um blusão e uma camisa azul por baixo, as calças pretas prendem a camisa que usa. a sua figura está cada vez mais esguia e o seu olhar cada vez mais afastado, imponente. as sardas estão fixadas à sua pele e eu tento descrevê-lo o melhor que sei mas a sua magnitude é-me transmitida e eu não a consigo acompanhar. misterioso, imponente, magnânimo na noite. mantenho-me sentada no banco que esta rua sustenta, mais desajeitada que o seu nariz, vejo-o a sentar-se à minha beira. sustentamos a noite e nenhuma palavra daremos um ao outro, iremos só manter a nossa escuridão por cá e procurar um lugar.

para: Ian Curtis